domingo, 26 de fevereiro de 2012

Só quem me conhece bem!



Sonhar é difícil, lembrar mais ainda. Incomoda-me este estado, onde custo a sonhar sendo ainda mais ardoroso recordar do que sonhei. Fiquei assim por um bom tempo, sonhando pouco e não me lembrando de quase nada. Pra mim este é o estado vegetativo, se não sonho, não vivo. O pior é estado de inércia, em que estamos fadados a cair, é difícil injetar o veneno antimonotonia na veia e dizer boas palavras em um bom português, ou seja, é complicado desabafar, por mais que você tenha muito a dizer.


De fato eu preciso muito destas injeções de veneno antimonotonia, anda preocupante o meu estado de inércia fútil, que ando me arrastando. Mas posso fazer uma autodefesa, se faço isto é para sair do mais do mesmo. Não quero passar décadas falando o mesmo discurso por mais “revolucionário” que seja. Revolução não é dizer o que os outros querem ouvir e muito menos dizer a mesma coisa por vários anos. Tenho medo de cair neste arcabouço comum e de me copiar. O erro mais fatal que posso cometer é um auto-eu infinito, onde digo coisas que eu mesmo já disse, da mesma forma, com o mesmo olhar, da mesma perspectiva. E no fim das contas eu ser uma cópia continua do que já fiz há anos atrás. É como entrar em um estúdio e gravar um Nevermind, In útero, The Dark Side Of The Moon ou um Thriller a cada ano que passa. Nenhuma obra artística é revolucionária quando você esta fazendo o que já fez, por melhor que seja a qualidade desta obra.


Talvez para evitarmos nos copiar indefinidamente devêssemos parar. Dar um tempo e ver no que vai dar. Foi mais ou menos isto que tentei fazer, mas ainda me vejo com o mesmo discurso repetitivo, “revolucionário” e vazio. Além do mais é intrigante se vamos sempre ter algo a dizer, a fazer, a criar, a construir. É como se fossemos infinitos e como o universo, estamos sempre em expansão. Tenho minhas dúvidas, acho que a minha falta de fôlego em alguns momentos é o sinal, que a corrida esta chegando ao fim. "Amanha vai ser outro dia" é sem dúvida. Uma frase de esperança de um sentimento inabalável, de que dias melhores viram e que vamos estar sempre construindo um futuro mais agradável. Não sei, sou um tanto cético e sempre questiono até coisas deleitosas como: amanha vai ser outro dia.
Eu continuo discursando coisas tão vagas quanto discursava aos meus dezoito anos. Tenho a leve impressão de ser um eco de mim mesmo. Faz alguns anos, que sempre penso: deveria ler mais, deveria me dedicar mais a música, a vida social, aos bons e saudáveis  prazeres da vida, sempre digo que logo farei isto. O fato é que este logo já é uma década. Eu sempre estou deixando algo para logo. Faço depois, digo sempre ao ver algo que me interessa e me deixa em estado de êxtase. O “faço depois” vira um bolo tão volumoso e incontrolável que o melhor é esquecê-lo. Recomeçar sim, mas por um novo caminho, o problema é que penso estar em um novo traçado, mas quando percebo estou no antigo, no velho, no ultrapassado. Estou novamente me copiando.
Igual a mim tem mais um bilhão. Sinto-me como uma rosa no meio de um ramalhete de rosas, quero ser a rosa do Pequeno Príncipe, sendo ela única não por ser a mais bela ou mais formosa. Ela é diferente por ser a rosa do Pequeno Príncipe, isto lhe torna única. O Pequeno Príncipe só tem aquela rosa, nenhuma outra é capaz de substituí-la por mais que semelhante que seja. É uma particularidade difícil de ser constatada e ainda mais de ser percebida, geralmente não damos bola para isto. Já tive o melhor namorado do mundo e não dei muita veemência, quando me dei conta não a tinha mais. Ele se foi, sem dizer adeus, nem mesmo um até mais. E assim continuo me copiando, sempre pensando: vai passar.


Guimarães Rosa dizia, que para falarmos do universal, devíamos partir do nosso quintal de casa. Sempre que leio, vejo, ou lembro-me de Guimarães Rosa, penso que deveria ler mais sobre este cara. Necessito dar mais valor a simplicidade da vida. As vezes eu me sinto o bêbado, que bebia para esquecer a vergonha que sentia por beber. Às vezes me sinto tão impotente, quanto um cão, que só é capaz de latir, mais grave, mais agudo, mas intenso e menos intenso, sua variação é entre o latido e rosnar. Em ultimo caso, o grito latente de dor, aquele de momentos inesperados e de extremo pavor.


Mais uma vez, o sentindo do que quero dizer (Mas não tenho a coragem para fazê-lo claramente) corre desesperado para longe. E você que me conhece pensa: É aquela velha coisa: você já sabe o que eu já sei, que você já sabe, que eu já sei, e não sabemos se vamos para onde não vamos, e não sabemos se amamos, quem não amamos, e não sabemos se fazemos, o que não fazemos, você já sabe, o que eu já sei...


É uma merda! (Só quem me conhece bem.)  





Um comentário:

  1. Amei a primeira imagem e certeza que esse texto fará umas 99,9% dos leitores se identificarem.

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